Banhado em cores quentes que retratam Barcelona como uma cidade de prazeres e sensações intensas, o filme faz uma belíssima utilização dos pontos turísticos do lugar: evitando transformar o longa num mero cartão postal, Woody Allen emprega a arquitetura de Gaudí como um comentário sobre os próprios personagens, que, refletindo o estilo que marcou a obra do catalão, são criaturas tão complexas e aparentemente tão instáveis que mal compreendemos como podem se manter funcionais. Da mesma forma, as músicas que atravessam a narrativa – e que pontuam o único aspecto passional do temperamento de Vicky – não só comentam como também compõem aquele universo repleto de paixões e personalidades tempestuosas.
Enquanto isso, Allen transforma seu pares de personagem em comentários à parte sobre vários temas: se Doug (Messina) e Vicky representam a razão, Juan e Maria Elena são a pura emoção, ao passo que Cristina, plantada ali no meio, tenta encontrar um equilíbrio ao analisar constantemente os próprios sentimentos (o que, de certa forma, a impede de sentir-se completamente feliz ou em paz com suas escolhas, que passam por um permanente auto-questionamento). Por outro lado, se o casal norte-americano reflete o puritanismo (Vicky) e o materialismo (Doug) ianque, Juan e Maria Elena defendem, através de suas atitudes, a liberalidade e a sofisticação intelectual e artística do velho continente – permanecendo Cristina novamente entre os dois, já que, apesar de mais aberta a experimentações sexuais e de relacionamento, permite que sua natureza inconstante a leve de volta ao individualismo representado por sua “busca” solitária por um romance ideal.